Eu e minha esposa passamos este último final de
semana na casa da minha mãe. Em um determinado momento fomos ao
mercado fazer algumas compras e, em meio ao monte de produtos que fomos
comprar estava a droga líquida e lícita que é aceita pela
sociedade em geral. Alguns membros da minha família consomem esta
droga que quase destruiu minha vida, para eles é algo normal que
aparentemente não faz grandes estragos, mas para mim representa dor,
desesperança, compulsão, obsessão e tudo mais que a droga
representa.
Em outras palavras, eles podem, EU NÃO!
Com muita naturalidade minha mãe me pediu para eu
pegar dois fardos desta droga e colocá-los no carrinho. Fiz sem reclamar, me senti
mal, incomodado e apesar dos mais de sete anos limpo, senti vontade
de usar aquela droga. Não usei, continuo limpo só por hoje!
Fiquei refletindo sobre esta experiência e
cheguei a conclusão que em alguns momentos a família que tanto nos
ama, atrapalha nossa recuperação. Não só por colocar em nossas
mãos aquilo que deve ser o primeiro item da lista de “evites” de
um recuperando, como aconteceu comigo naquele mercado, mas por outros
dois aspectos que vou comentar um pouco:
Primeiro Aspecto: Esquecem-se que a adicção é
uma doença incurável.
Não precisa de muito tempo para que os familiares
“esqueçam” que o recuperando tem uma doença relacionada ao uso
de drogas. Basta alguns meses limpo e logo estão bebendo na frente
do recuperando, levando-o em festas onde há álcool, ou pedindo para
que o recuperando pegue a droga na prateleira do supermercado. É
evidente que os familiares não fazem isso por mal, fazem por
ignorância, por acreditarem que o álcool representa para o
recuperando o mesmo que representa para eles que não tem a doença
da adicção. Este é um erro que leva milhares de recuperando a
recaírem todos os dias ao redor do mundo.
Os familiares tem que entender que aquela latinha
de cerveja representa para o recuperando a maior paixão de sua vida,
mesmo que não seja sua droga de preferência é uma substância capaz de
alterar o humor ou ânimo, logo é uma droga e com certeza será uma
porta de entrada para que o recuperando volte ao uso de sua droga de preferência.
Segundo Aspecto: Não conseguem reconhecer que
suas vidas tem muitos problemas além daqueles causados pelo familiar que é viciado.
Um usuário de drogas dentro de um lar tem a
capacidade de neutralizar todos os demais problemas dos outros
membros da família. Geralmente os problemas causados pelo usuário
como furto de eletrodomésticos, agressões, gritaria, sumiços e
etc. causam danos a toda família e aparentemente o problema daquela
família é exclusivamente o usuário de drogas. Quando este usuário
entra em recuperação e pára de se drogar aqueles familiares
acreditam que agora suas vidas vão ficar boas e que não terão mais
problemas, este é um engano enorme pois continuam com problemas,
afinal todas as pessoas tem problemas, mas como sempre tiveram o
usuário de drogas como o problema da família, muitos não conseguem
enxergar seus próprios problemas.
A partir deste ponto os familiares tem que lidar
com seus problemas, suas frustrações e medos. E aí? Não é fácil
admitir que também tem seus erros, que não são tão superiores
assim ao usuário de drogas, e principalmente, que precisam de ajuda.
Muitos familiares buscam ajuda, em igrejas,
grupos de recuperação para familiares, psicólogos e tantos outros
meios, mas há aqueles familiares que não conseguem admitir e buscam
inconscientemente ter outra vez aquele problema central que encobre os
seus problemas. Um usuário dentro de casa.
Pode parecer viagem minha, mas nestes anos de
caminhada já vi atitudes de familiares como criar caso porque o
recuperando está indo demais ao grupo ou a igreja, essas são
defesas inconscientes que as pessoas criam para que o recuperando não
tenha êxito, pois se ele tiver êxito você terá que lidar com seus
problemas e se ele não tiver êxito você irá lidar com os
problemas dele que serão tão maiores que o seu se ele voltar a usar
drogas que os encobrirão.
É mais fácil lidar com o problema dos outros do que com o nosso próprio problema!
Pode ser que este texto não faça o menor sentido
para você, mas se você se identificou de alguma forma, abra o olho,
você pode estar matando aquele a quem você tanto ama!
Particularmente só tenho a agradecer minha
família pelo apoio moral e financeiro que sempre me deram para eu frequentar meus lugares de recuperação, eu não vivi o segundo
aspecto citado neste texto, porém eu presenciei isso na vida de
alguns companheiros.
Fim
Após dois anos longe das postagens fico muito
feliz por essa inspiração repentina nesta quente sexta-feira 13,
espero escrever mais ao longo de 2014.
Que a Graça do Senhor Jesus meu Deus, seja com
todos que lerem este blog.
Leiam, comentem e divulguem... abraços!!!